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O que esperar do Agronegócio para 2017
17/01/2017
Apesar de o Agronegócio ser visto como um dos pilares que segura o Brasil em meio a avalanches econômicas e políticas, algumas áreas do setor se viram abaladas em um ano que enfrentou uma das mais graves crises econômicas dos últimos tempos, afetando produtores e indústrias. Além deste já conhecido e complexo cenário, tivemos outro fator agravante: o clima. 2016 foi ano de El Niño, um fenômeno que é determinado por um aquecimento anormal das águas do mar da porção central-leste do Oceano Pacífico Equatorial. Isso afetou consideravelmente o clima e, consequentemente, o agronegócio no Brasil.
O fenômeno teve início na primavera de 2015, com um calor histórico que deixou o Sul do Brasil debaixo d´água no período de inverno e diminuiu drasticamente o volume das chuvas de verão e outono em estados produtores de grãos em parte do Nordeste, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo e Tocantins. Também provocou muita chuva em São Paulo, no Paraná e no Mato Grosso do Sul.
Essas alterações, associadas às crises política e econômica, levou a uma queda de safra de grãos que variou entre 10 e 11%. A previsão era de 210 milhões de toneladas, mas o Brasil fechou 2016 com um volume abaixo da média dos últimos seis anos: 186 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Dentre os produtos com grande quebra, tivemos o milho de segunda safra, que concentra a maior parte da produção deste grão, ocasionando a falta do mesmo nas grandes indústrias e para alimentação animal, elevando seu preço em 121%, assustando confinadores e outros dependentes do grão.
No cenário da pecuária de corte, o setor foi o mais afetado em função da crise e do custo de produção. Diante de um ano marcado por inúmeras tribulações de mercado, algumas análises, como custo da reposição, cotação da arroba do boi gordo e o preço do milho, mostraram que houve redução na produção de carne bovina em torno de 1,21% no comparativo com 2015, o que afetou produtor e indústria. Com o valor da arroba em queda, a falta de oferta da cria e a alta no preço do milho, houve uma diminuição em torno de 15% no volume total de abate de bovinos no Brasil, que passou de 30.651.802 milhões animais abatidos, para 26.054.031 milhões em 2016, segundo dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg). Além disso, reduziram o confinamento na ordem de 18% em 2016, quando comparado ao abate de animais confinados em 2015, conforme publicado pela Associação Nacional de Confinadores (Assocon).
Sabe-se que com a diminuição no volume de abate de vacas e a consequente restrição de animais de cria, houve um aumento no preço do bezerro e diminuição nos lucros de recria e engorda nos dois últimos anos. Em 2017, espera-se uma inversão deste cenário. Para os produtores de cria, a tendência é de um cenário menos atrativo devido à oferta de bezerros, o que, por outro lado, favorece a recria e engorda, uma vez que a diminuição do preço do bezerro pode compensar o preço de uma arroba mais baixa do que está previsto para este ano.
Com o início das chuvas em grande parte do país no começo deste ano, espera-se um ano mais estável em que o fenômeno climático La Niña predominará no primeiro trimestre de 2017. Após o final deste, existe um período de neutralidade, que costuma durar de cinco a seis meses e traz uma margem maior de segurança para o agronegócio. Os estoques públicos de milho estão em níveis muito baixos, dificultando a regulação da oferta, porém espera-se uma recomposição da quebra de safra de 2016 com previsão de 215 milhões de toneladas em relação à atual.
Em síntese, sabe se que muitas são as variáveis de mercado e que, apesar de 2017 apresentar perspectivas de um cenário melhor, ainda será um ano desafiador para o setor. Será necessário que o produtor continue investindo em ferramentas de gestão bem como capacitação e assistência técnica. Investir em aumento da produtividade resulta em um maior retorno do capital investido, possibilitando produzir mais por menos. No atual ambiente econômico, sabemos que o caminho para garantir boas margens e um só: a busca por eficiência em um ano que deverá ser planejado com austeridade, prudência e organização.
Médica Veterinária, Graduada pela UFG e Pos Graduada pela Universidade da Flórida (Estados Unidos), responsável técnica pelo PESEBEM na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás.